quarta-feira, 4 de junho de 2008

Jornalismo Customizado: Digitalização da informação

Tatiana Pereira
A digitalização da informação instaura uma nova era para o jornalismo, que na pós-modernidade tem do sistema de produção à distribuição de conteúdos até o processo de redação jornalística e modelos de matérias modificado. A supressão dos limites de espaço e tempo - que sempre acompanham edições impressas, telejornais, além do rádio-jornalismo surge como uma das novidades trazidas pelo emergente jornalismo online, assim como o como seu elemento constitutivo e inovador para a escrita digital. Esses dois últimos alteram significativamente os modelos finais das matérias, que, a despeito das quebras de limites espaciais proporcionados pela mídia digital, acabam sendo produzidas segundo formatos variados adotados pelos sites jornalísticos. Também muda a relação entre fornecedores e consumidores da informação, já que o ambiente eletrônico possibilita a interlocução do consumidor com o fornecedor, do receptor com o emissor e destes entre si. O que era unidirecional passou a ser reticular. (Silva, 1997, pp: 254).
O modo como os elementos da informação se relacionam no jornalismo online (usa a escrita, os bancos de dados, hipertextos, imagens) se estabelece de maneira não-linear, pois as mensagens circulam em rede. E é essa forma não-linear que leva o leitor a ler e acessar a informação em qualquer ordem que escolher, ativando o que Lévy chama de informação em fluxo (Lévy, 1999, pp:62) - dispositivo informacional original surgido com o ciberespaço, onde os dados estão em contínua modificação, pois estão em rede.
O novo formato de jornalismo pressupõe características e aqui recorremos a Jo Bardoel & Marca Deuze (1999), que estabeleceram quatro características chaves para o que eles classificam de quarta espécie de jornalismo: a interatividade, a hipertextualidade, a multimidialidade e a customização ou a personalização do conteúdo. A elas, podemos acrescentar ainda a possibilidade de formação de comunidades, a contribuição para a criação de uma memória coletiva - levando-se em conta que o jornalismo é um dos produtores do conhecimento na contemporaneidade - e a atualização constante, já que o jornalismo online pressupõe atualização instantânea dos bits na forma de textos, de imagens, de gráficos, de animações, de áudio e de vídeo - os recursos da hipermídia.
A interatividade, sendo o principal elemento do ambiente online, está relacionada com a própria interação entre os conteúdos (um texto pode trazer links para reportagens anteriores, por exemplo), além das possibilidades de interferência do leitor - o consumidor da notícia - nos conteúdos acessados. Seja através de e-mail à redação, sugerindo assuntos a serem abordados, de mensagem enviada diretamente ao redator da matéria, ou ainda através da opção ``envie seus comentários sobre esta matéria'', o leitor terá participação ativa, interferindo no conteúdo e opinando diretamente na produção da informação. A customização de conteúdo se dá através do próprio percurso escolhido pelo usuário para ler as informações, sendo uma característica ligada propriamente à relação com os leitores-usuários, pois lhes assegura também a possibilidade de personalizar os conteúdos através do recebimento de informações sobre determinados assuntos do seu interesse. Ou seja, pode ter um produto jornalístico ajustado às suas necessidades de informação. Alguns sites até permitem ao usuário criar a sua webpage, onde pode observar suas escolhas pessoais de notícias.

Sobre a personalização, José Afonso Silva Jr. destaca:
``Com a personalização, o conteúdo jornalístico passa a ter a configuração de uma potência, ou seja, de uma série de conteúdos armazenados não mais como depósito ou arquivo, e sim, como uma miríade de conteúdos, atualizáveis segundo a lógica da preferência, histórica e hipertextual de cada usuário. Gerando processos efêmeros de publicização eletrônica, atualizáveis várias vezes ao dia, e diferenciados entre si, de acordo com a sua inter-relação com usuários específicos''. (Silva Jr, 2000, pp:68).
Ele identifica ainda outros modelos de personalização na configuração do jornalismo, além da própria personalização de conteúdo: personalização de serviços baseados em disseminação hipermidiática e a personalização relativa às fontes.“Normalmente nesse tipo de personalização, ocorre a integração com bancos de dados, onde constam as preferências dos seus usuários. Tanto com fontes preexistentes, como por fontes que o usuário - caso queira - pode inserir''. (Silva Jr, 2000, pp: 78)
Bardoel e Deuze referem-se à hipertextualidade como a natureza específica do jornalismo online, o aspecto profissional de oferta de informação. Com os hipertextos e hiperlinks, o jornalista pode fornecer conteúdo de notícia original - tanto através de hiperlinks para documentos e informações em bancos de dados como para matérias de editorias diferentes mas que se complementam entre si, dando ao leitor maior chance de análise e de conhecimento sobre determinado assunto ou fato. A multimidialidade é a convergência de formatos de mídias tradicionais - texto, imagem, áudio - em um único suporte.
No meio eletrônico-digital, a atualização dos conteúdos acontece de maneira constante, não há dead line estabelecido. Em qualquer momento, na medida em que novas informações ou acontecimentos vão sendo produzidos, pode-se disponibilizar algo novo. Esta renovação contínua tem a intenção de manter o leitor/internauta mais tempo dentro de determinado site, entretido em suas páginas e links e recebendo informação nova.
Se toda tecnologia estende ou amplifica algum órgão ou faculdade do usuário, as redes telemáticas, especialmente a Internet, estende o sentimento de comunidade. Assim, também podemos colocar entre as características do jornalismo online a formação de comunidades, pois a busca pela fidelização do usuário passou a ser um dos objetivos intrínsecos aos sites para agregar audiência e, sobretudo, para enredar o usuário, reforçando nele o sentimento de pertencimento. Essa característica de formação de comunidades é ainda mais forte em sites que se enquadram na categoria de portais locais, cujo interesse é ``falar'' de perto com determinada comunidade fornecendo conteúdo digital original, além de serviços. A seguir, nos deteremos mais sobre esses portais, que, acreditamos, se constituem numa nova categoria para o jornalismo online.

Diferenciação de formatos
Para o jornalismo, especificamente, a Internet vem alterando a constituição do savoir-faire, ativando novas funções e instaurando o paradigma da interatividade que é a marca do jornalismo online, cujas primeiras experiências remetem à década de 80 nos Estados Unidos. Foi quando os sistemas de Videotexto da Time, Time-Mirror e Knight-Ridder começaram a circular na Internet. Em 1989 - ano de criação da World Wide Web -, já eram veiculados os serviços de notícias especializadas, oferecendo informação em ``tempo real''. No Brasil, o Grupo Estado foi quem primeiro percebeu o potencial da Rede e, em fevereiro de 1995, passou a operar serviços informativos pela Web, através de link com a World News, de Washington. Mas o jornal que de fato lançou primeiro a sua edição online foi o Jornal do Brasil (www.jb.com.br) , em 28 de maio de 1995.
Como era de se esperar, todos os grandes jornais do país migraram para a rede, inicialmente utilizando o sistema transpositivo das edições impressas para a versão online até que, pouco a pouco, começaram a perceber as peculiaridades do novo meio e a necessidade de adoção de processos diferenciados. Mas, conforme Melinda Mc Adams, a metáfora seguida sempre foi a do jornal impresso: seja na linguagem, na divisão por editorias, na forma de apresentação das telas principais dos sites (como se fosse a primeira página de um jornal) e na própria utilização da palavra ``jornal''.
Após a euforia da estréia na Rede, os grupos editoriais assim como as empresas jornalísticas perceberam que para seus respectivos sites terem visibilidade precisariam ser acessados e, para isso, era necessário ofertar conteúdos exclusivos para além daquele disponível nas edições impressas, implementando canais de notícias em tempo real para despertar e criar o hábito da leitura da versão online. Para fidelizar ainda mais esse usuário, numa etapa seguinte, os grandes grupos e empresas entraram para o negócio do provimento de acesso Internet - uma das esperanças de geração de receita, pois só a publicidade não garantia o retorno esperado.
Um novo momento de diferenciação para o jornalismo vai acontecer com a ascensão dos portais - páginas que centralizam informações gerais e especializadas, serviços de e-mail, canais de chatrelacionamento, shoppings virtuais, mecanismos de busca na Web, entre outros, e cuja intenção é ser a porta principal de acesso a orientar a navegação do usuário pela WWW. Foram os americanos que criaram e batizaram esses sites de ``portais''.
Portal local: nova categoria para o jornalismo online
Desde a popularização da World Wide Web, a partir de 1995, uma das experiências mais apaixonantes propiciadas pela Internet e citada a todo o momento é a de que o mundo agora está ao nosso alcance num clicar de mouse. De casa ou do trabalho é possível navegar por um turbilhão de informações, conversar com pessoas ao redor do mundo, ampliar o conhecimento, pertencer a uma inteligência coletiva.
Esse sentimento de estar integrando uma rede planetária e universal é o propulsor do aumento de fluxo na Internet, atualmente conectando 459 milhões de pessoas no mundo. E a utilização dessa tecnologia para chegar mais perto dos cidadãos, integrando-os ainda mais nesse universal, vem tendo cada vez mais aceitação através dos mais diferenciados usos e apropriações.
No que tange ao jornalismo online, o modelo de portais locais parece estar cumprindo a função de usar a informação segundo os critérios e características próprias ao ambiente eletrônico - como a interatividade, hipertextualidade, multimidialidade, customização de conteúdo - para atrair os usuários de determinadas localidades para a rede, facilitando o acesso a serviços, programação cultural, notícias, turismo, lazer, entre outros assuntos pertinentes à cidade em que moram e sem pagar nada por isso. Sites de conteúdo local começaram a surgir, inicialmente, no Estados Unidos, em 1998. Um ano depois a Web nacional passou a abrigar também produtos com essa característica, e, atualmente, muitos se espalham por diversas cidades. Alguns exemplos de portais locais são o Uai, de Minas Gerais (www.uai.com.br) e o iBahia (www.ibahia.com.br) , com atuação focada no mercado de Salvador.
Os portais locais convivem sem concorrer com os mega portais ou portais genéricos - em alguns casos até fornecem conteúdo em área específica para eles - e adotaram uma linguagem híbrida, que mescla o jornalismo diário (fornecem notícias de última hora produzidas pelas suas equipes ou através do sistema de clipping de notícias) com o semanal (pois muitas matérias têm uma permanência maior no ar, o que se aproxima do jornalismo de revista, em mais uma metáfora com o meio impresso). Eles também têm as suas seções divididas segundo editorias/canais (cidade, turismo, esporte, lazer, por exemplo) e fornecem as informações culturais, sobre show, teatro, programação de cinema, estabelecimentos em geral e eventos, tirando partido dos bancos de dados.
As matérias têm normalmente entre três e quatro parágrafos, e muitas vezes com hipertextos e links para conteúdos do próprio portal ou para outro site. Os serviços e produtos oferecidos (e-mail gratuito, salas de bate papo, cartão de conveniência) se diferenciam de um para outro portal, assim como o design. Em alguns, as informações ficam escondidas em determinadas seções, enquanto outros têm uma navegabilidade mais difícil por conta de páginas pesadas com muitas imagens para carregar. As possibilidades de interação com o leitor/usuário nesses sites são percebidas através das caixas de ``comente esta matéria'', através de e-mail direto à redação e também por meio de uma opção de dar notas a matérias ou a determinado evento relacionado no site.
Nos portais locais vale o princípio da proximidade da informação com determinado público e esse formato, conforme Steve Outing (1999), é uma estratégia inteligente para a Web que o setor jornalístico aceitou. Ele aponta alguns serviços que esses portais devem oferecer para obter sucesso, tais como: sistema de busca por tópicos, sistema de manchetes do dia, seção de fóruns e debates sobre diversos temas, links atualizados para os principais jornais, revistas e sites de notícias, links para serviços diversos (eventos, programação cultural, entre outros), salas de bate papo, relações de compras on-line, serviço personalizado de home page e serviço gratuito de webmail. Em alguns dos portais locais acessados vê-se a oferta desses serviços, tais como a busca por tópico, links para eventos, programação cultural, chat, e e-mail gratuito, mas por enquanto, a implementação de serviços de compras on-line é ainda uma promessa.
O conteúdo - o maior fator em seduzir leitores (Carole Rich,1998, pp: 03) - nesses sites está em contínua atualização. A opção por títulos[8] curtos e subtítulos que em muitos casos não repetem o lide da matéria, também é verificada nas matérias veiculadas. Outro aspecto bastante considerado pelos portais locais é o da formação de comunidades. A fidelização do usuário se dá através do conteúdo em si - quanto mais próximo mais dirá respeito a ele - de promoções e sorteios diários de brindes, ingressos para festas, cinema e até viagens, além de cartões que dão descontos em estabelecimentos para sócios dos portais. Assim, vai-se ampliando as relações entre produtores do site, usuários/moradores e empresários e comerciantes, ao mesmo tempo que se agrega audiência e visibilidade aos sites.
Os portais locais parecem ser mesmo uma tendência crescente na Internet e, para o jornalismo online, como afirmamos, se configura numa nova categoria. Eles são serviços de informação direcionados que complementam sites noticiosos produzidos por jornais e mesmo os mega portais, além de se constituírem em mais um campo para atuação dos jornalistas. Pois, para produzir e ofertar conteúdo original e com credibilidade, os portais necessitam de equipes familiarizadas com o quotidiano dos usuários e das cidades que pretendem atuar.
O próprio jornal Washington Post (www.washingtonpost.com) é um dos exemplos de empresa que atua no segmento de mídia tradicional e que, com seu site na Internet, já implementou seções com conteúdos direcionados a determinadas cidades próximas à sua sede, numa iniciativa clara de percepção do uso das novas tecnologias para o local, intentando aproximar-se das comunidades. Nesse caso, tem-se, num só site, conteúdo que serve à uma comunidade mundial, nacional e local. Sobre o jornalismo ligado a serviços, é interessante reproduzir aqui o que diz Bardoel e Deuze:
“O jornalismo se tornará uma profissão que fornece serviços, não a coletivos, mas, primeiro, aos indivíduos, e não unicamente em sua capacidade como cidadãos, mas também como consumidores, empregados e clientes'' (Bardoel & Deuze, 1999, pp: 08).
O que se pode dizer que desta maneira aumenta em grande medida a responsabilidade dos profissionais em fazer um jornalismo de serviço com conteúdo original, dirigido a uma determinada localidade.
Os portais locais também recuperam a memória tanto no nível do produtor da informação como do usuário, já que com a Internet - e o jornalismo online - esta capacidade é ampliada. A perspectiva da digitalização geral das informações provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do início do próximo século (Lévy, 1999, pp: 93). E no que tange ao jornalismo como um dos produtores da ``memória do cotidiano'', o ciberespaço já é um dos principais canais acondicionadores de informação que permitem à inteligência coletiva (comunidade de usuários) usufruir desse conhecimento.
Midias Digitais
As mídias digitais servem mais ao monólogo virtual do que à dialogia presencial (Medina), contudo cabe aos jornalistas explorar ao máximo a multimidialidade, interatividade, customização, convergência e a memória da web, visto que a potencialização interdisciplinar destas características permitirá ampliar o contexto coletivo da pauta, abordar aspectos histórico-cultural e proporcionar ao leitor visões especializadas sobre o tema da cobertura, elementos ainda pendentes nas mídias tradicionais.“A entrevista, ou melhor, o diálogo possível, ao vivo e a cores é insubstituível. A força da palavra poética só emerge de um diálogo imprevisível no corpo a corpo”explica a professora Cremilda Medina.
“Questões de autenticidade (ética) e criatividade (estética) são frequentemente feridas pela modernidade das máquinas (tecnologia)”A crítica de Medina acima, não diz respeito as novas tecnologias em si, mas a apropriação delas pelos jornalistas, que grudados à redação, enviam a pergunta por e-mail, apressam o processo de trabalho e reproduz as estruturas estanques da coleta de informações.Outra entrevista de Medina sobre a relação das novas mídias com a entrevista no blog Jornalismo Móvel.

Um comentário:

webjorsuperacao disse...

:: Tatiana, seu texto fugiu ao padrão dos demais e possui forte indício de cópia!
Isso configura plágio, portanto uma grave infração!