Uma das principais leis da física, a da ação e reação, está mais presente em nossas vidas do que podemos imaginar. A imprudência ao dirigir amplia o risco de acidentes, o abuso de bebidas alcoólicas cria dependência, a ausência de cuidados com a higiene propicia o surgimento de doenças, as preocupações em excesso geram estresse.
Todos os acontecimentos do dia-a-dia estão, em maior ou menor grau, relacionados às decisões que tomamos, individual e coletivamente, fruto de nosso livre-arbítrio, e que interferem positiva ou negativamente em nossos lares, no bairro onde moramos, na cidade ou mesmo nos destinos de uma nação.
Assim ocorre com a dengue, doença que atinge milhares de brasileiros todos os anos e cujas formas de prevenção são de largo domínio público. Com alertas anuais das autoridades de saúde, hoje a grande maioria das pessoas já sabe que é preciso evitar recipientes com acúmulo de água parada, porque são esses os locais mais propícios à proliferação do mosquito
Aedes aegypti, que transmite a doença ao ser humano.
A
dengue é uma doença endêmica, ou seja, com presença contínua em 4 ou 5 regiões brasileiras, e que pode se tornar epidêmica se as medidas de controle não forem adequadamente executadas. Além do Brasil, a doença existe em mais de 100 países. O mosquito transmissor, que na linguagem técnica chamamos de vetor biológico, já se adaptou aos ambientes urbanos, sobretudo em locais de clima quente e úmido.
Os principais sintomas da doença são: febre alta, dores de cabeça, nos olhos, nos músculos e nos ossos, além de cansaço, fraqueza e manchas vermelhas pelo corpo. A dengue também pode se apresentar em sua forma mais grave, a hemorrágica, que pode levar à morte. Nesse caso, os sintomas são os mesmos da dengue comum, mas que vêm acompanhados de sangramentos, queda de pressão arterial, dores no abdômen, sonolência e agitação.
Depois de dois anos com reduzido número de casos, o Estado de São Paulo voltou a registrar, em 2006, um aumento da incidência de dengue. De janeiro a outubro foram confirmados 43.003 casos, frente aos 5.433 de 2005 e aos 3.049 de 2004, nos 12 meses do ano. Ainda foi abaixo de 2001, quando houve 51.668 casos da doença. Neste ano, a transmissão da doença ocorreu atipicamente ao longo do inverno, já que foram poucos os períodos de frio intenso que pudessem interromper o ciclo do mosquito transmissor.
Os municípios que tiveram mais casos de dengue em 2006 foram São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Praia Grande, Catanduva, Araçatuba, Guarujá, Santos, São Vicente, Guarulhos e Cruzeiro. A avaliação é que, com dois anos relativamente “confortáveis” em relação à doença, parte da população relaxou, deixando de adotar os devidos cuidados para preveni-la.
Segundo as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), cabe às prefeituras o trabalho de campo para combater a dengue, incluindo visitas casa a casa, operação cata-bagulho e orientação à população. O Estado, por intermédio da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), exerce papel complementar, de supervisão, apoio e capacitação dos agentes de saúde.
Neste período que antecede o verão, a Secretaria de Estado da Saúde promove uma mega-operação de alerta anti-dengue em todo o Estado, em parceria com as prefeituras, incluindo ações de varredura em cidades consideradas prioritárias para o controle da doença, distribuição de panfletos e uma grande campanha publicitária nos principais veículos de comunicação.
Entretanto, os esforços das autoridades de saúde serão insuficientes se não houver a necessária contrapartida da sociedade. No caso da Dengue o importante não é procurar os culpados, mas sim perceber que todos somos responsáveis. Prevenir a dengue é, principalmente, uma questão de hábito, ou melhor, de mudança de hábito, dentro da própria casa. Somente o esforço coletivo terá resultado contundente no controle da doença.
Nunca é demais lembrar que 80% dos criadouros de mosquito estão nas casas das pessoas, portanto: coloque areia nos pratos dos vasos de plantas, não guarde pneus em posição que permita acúmulo de água, esvazie ou vire garrafas de cabeça para baixo, recolha embalagens descartáveis que possam acumular água, tampe as caixas d’água, tampe as caixas d’água e mantenha os latões de lixo sempre tampados e secos. A guerra aos Aedes aegytpi tem que começar já, para virarmos, mais uma vez, o jogo contra a dengue no Estado de São Paulo.